Arrebunhar
“Arrebunhar” é exatamente o mesmo que “arranhar”, só que
com mais uma sílaba gratuita. Em vez de “O azeiteiro do teu gato
arranhou-me o braço todo”, podes dizer “O azeiteiro do teu gato
arrebunhou-me o braço todo”, mas com pronúncia transmontana,
claro.
Albarda
A palavra vem do espanhol (o que é comum acontecer nas expressões
do nordeste transmontano, visto que a região sofre bastante
influência de Espanha) e designa as selas que se colocam nos
cavalos, burros e outros animais de carga. Em Trás-os-Montes,
refere-se também ao vestuário de alguém, mais frequentemente para
falar de casacos grandes ou algo do género. Por exemplo: ” Não te
metas nesse caminho de lama que dás cabo da albarda, rapaze!”.
Amarrar
A palavra existe e é conhecida para toda a gente, certo?
Significa, obviamente, atar com cordas, por exemplo. Contudo, em
Trás-os-Montes, a palavra é utilizada como um sinónimo – ou
substituto – de “agachar”. Se algum dia um gajo de Bragança te
gritar “cuidado, amarra-te!”, não é suposto pegares numa corda
e prenderes-te a um poste com ela (exceto em casos de sadomasoquismo
brigantino). A única coisa que tens que fazer é baixar-te, ou ainda
bater com o caco nalgum sítio.
Carranha
É a palavra mais nojenta da lista e significa, simplesmente,
“macaco do nariz”, ou monca. Se és daquelas pessoas que não se
assoa, é bem provável que ouças alguém dizer-te “Pega lá um
lenço, que tens aí uma carranha!”. Contudo, também é provável
que ninguém te diga nada e que andes o dia inteiro a fazer uma
figura triste com uma monca de fora.
Cibo
Esta palavra significa exatamente o mesmo que “bocado”,
podendo substituí-la em qualquer contexto. Ao lanche, numa terra
transmontana, será comum oferecerem-te um “cibo de pão com
manteiga”, por exemplo
C’moquera
Esta é uma das expressões mais difíceis de explicar. Quer
dizer, mais ou menos, “pode ser que sim”, sendo utilizada tanto
em tom “normal”como em tom de ameaça. Por exemplo, se não
fizeres as cadeiras todas este ano – nós sabemos que estás à
rasca – “c’moquera” que ainda perdes a bolsa de estudos, se a
tiveres. Se se meterem contigo, poderás também só dizer
“c’moquera!”, em tom de ameaça, como quem diz “Pode ser que
leves uma saronda!” O que é uma saronda? Já lá vamos. Só mais
um cibo.
C’mássim
Esta tem mais ou menos o mesmo significado que “assim sendo”
com a vantagem de não precisar necessariamente de qualquer
antecedente. Se a conversa estiver fraca podes simplesmente dizer
“C’mássim, vou-me andando para casa”. Também pode significar
algo como “tem que ser”, como no exemplo: “Bem, vou limpar aqui
o chão da cozinha, c’mássim….”
Emplouricar
Significa ir para cima de alguma coisa. Os gatos, por exemplo,
gostam de andar sempre “emplouricados” nas mesas, nos armários,
nas portas, nas janelas, na televisão, nos móveis da casa de banho,
na bacia…enfim, já percebeste a ideia. E uma coisa é certa:
os gatos são mais fofos quando se andam a emplouricar do que quando
nos estão a arrebunhar o couro por completo.
Ele é
Esta é um cibo difícil de explicar porque não tem jeito nenhum.
Basicamente, é o mesmo que “é”, mas por vezes junta-se o “ele”
mesmo que não se justifique. Em vez de perguntares “É aqui o
festival?”, poderás perguntar “Ele é aqui o festival?”. Qual
é a vantagem? Nenhuma. E a necessidade? Também nenhuma.
Fai
Isto é uma variante de “faz”, pelo que tem mais que ver com a
pronúncia do que com a palavra em si. Por exemplo: “Ó Sandra,
fai-me aí um sumo de laranja!”. Há quem diga que o verbo “fazer”
pode ser conjugado nas outras formas verbais, ao estilo de “fai”
(“fais”, “faem”) mas também há quem diga que não, por isso
não nos vamos pronunciar no que toca a esse assunto.
Massim
Não há uma correspondência 100% correta para isto mas é
parecido com “não mas sim”, o que, por si só, já não faz
sentido nenhum. Por exemplo, se disseres que não queres salada, a
tua mãe pode dizer-te: “Massim, que te faz bem!”
Manhuço
Manhuço é um aglomerado de qualquer coisa, numa quantidade que
seja possível pegar com uma mão mas sem ser possível esconder. Um
manhuço de cereais, por exemplo, seria quando metes mão na caixa
dos Chocapitos do Lidl e tiras uma mão cheia deles. Um manhuço de
terra é quando agarras numa mão cheia de terra. Um manhuço de
cibos de pão é…é uma estupidez, já.
Lapouço
Quer dizer sujo/porco/labrego. Se és uma daquelas pessoas que não
consegue ir ao McDonald’s sem deixar cair metade do hambúrguer ao
chão e na barriga inchada enquanto metes a boca no outro lado do
pão, pode dizer-se que és um “lapouço”. Outras palavras com
significado semelhante – ainda que o destas seja um pouco mais
forte, significando que a pessoa é mesmo porca – são “Larego”
ou “Cochino”.
Ladradeira
Isto é o que se chama àquelas senhoras coscuvilheiras, que
passam o dia a dar à língua para cá e para lá, a falar da vida do
Sr. Francisco, do carro novo da Dona Teresa, da filha bastarda da
Maria Cigana. Dedicada a todas essas senhoras, e palavra “ladrar”
foi adaptada, de forma pejorativa, para esta bela forma: Ladradeira.
Guicho
A pronúncia é “guitcho/a” e é o equivalente a “fino”,
que descreve alguém inteligente, ou esperto! Em vez de dizer “e és
pouco fino, ó Zé!”, dirias “E és pouco guitcho, ó Zé!
C’moquera!”
Refustedo/Chaldraria
Ambas as palavras querem dizer confusão, ou barulheira. “Isto é
que vai para aqui um refustedo/uma chaldraria do caraças!”.
Contudo, “refustedo” pode também ser utilizado em substituição
de uma palavra parecida, mais feia: “p**edo”. Por exemplo: “Não
te metas nessa lanchonete que só há lá refustedo…”
Larpar
Esta palavra significa o mesmo que comer, mas de uma maneira
ligeiramente mais torgueira. Não há muito mais a dizer acerca desta
palavra, por isso não nos vamos alongar, até porque esta mesma
frase foi feita precisamente para meter aqui mais um bocadinho de
texto desnecessário.
Engranhado/a
Uma pessoa engranhada – ou, noutra variante, engaranhada – é
uma pessoa cheia de frio, ou que está toda encolhida por causa do
mesmo. Por exemplo: “Aquela ladradeira está ali toda engaranhada e
mesmo assim não se cala! C’moquera ainda apanha uma constipação.”
Arreguichada/o
Arreguichar é mais ou menos sinónimo de empinar. Como tal, para
dizer que alguém tem a mania, diz-se que anda de nariz
“arreguichado”, em vez de empinado, e as raparigas mais
oferecidas normalmente “arreguicham” a saia mais
frequentemente….É um refustedo.
Birolho/a
Um gajo birolho é, basicamente, alguém que tem os olhos tortos.
Apesar de parecido, não é sinónimo de zarolho, que isso é alguém
que só tem um olho. Por exemplo: “O Pedro é birolho, tem um olho
no pão e outro no repolho”. Os birolhos são, portanto, mais
frequentes. A Rita Pereira é um exemplo de uma leve birolhice.
Furgalhos
Isto é exatamente o mesmo que migalhas. É uma questão de
preferência. Poderás dizer, por exemplo, “Não deites os
forgalhos na cama pá! És birolho ou quê?”, ou “Parte aí um
cibo de pão com cuidado, para não esfurgalhar”.
Porí
Porí é uma expressão que pode ser utilizada no lugar de “se
calhar”. “- Porque é que a Maria está ali amarrada? – Não
sei, está engaranhada, porí”. Em português de Lisboa isto seria
equivalente a “- Porque é que a Maria está ali agachada? – Não
sei, está com frio, se calhar”.
Saronda/Tunda
“Saronda” (já referida anteriormente) é sinónimo de tareia,
assim como “tunda”. “O ladrão armou-se em guicho mas levou uma
saronda que ficou lá estendido!”
Bardino/Gandulo
“Bardino”, bem como “gandulo”, são palavras utilizadas
para descrever um indivíduo vadio, meio delinquente. o Justin
Bieber, por exemplo, é um bardino.
Surro
Quando alguém tem algum tipo de sujidade na pele, por exemplo (os
lapouços têm frequentemente sujidade que vem da comida que
espalham), pode dizer-se que tem surro. “Ó garota vai-te lavar que
estás cheia de surro na cara!” é uma expressão que se ouve
várias vezes, quando se lida com crianças.
Bilhó
Bilhó é uma maneira de designar castanhas assadas sem casca. Tão
simples quanto isto. No outono, pela altura do S. Martinho, é
frequente comer um manhuço de bilhós depois de almoçar. A palavra
pode também ser usada para referir a uma criança pequena, atrevida,
guicha. “Este bilhó não sabe estar quieto!”
Zorra
Talvez das mas engraçadas, é uma palavra que significa “filha
bastarda”, como, por exemplo, a filha da Maria Cigana da qual já
falamos no slide da Ladradeira. A Maria Cigana tem, portanto, uma
zorra em casa.
A maneira de dizer as horas
Não, neste caso o título não é uma expressão transmontana.
Neste caso, o que acontece é o seguinte: sempre que ouvires alguém
dizer a preposição “as” ao dizer as horas (por exemplo: “são
as 3h da manhã”, em vez de “são 3h da manhã), podes assumir,
com 99% de certeza, que essa pessoa vem de Trás-os-Montes. Os
transmontanos teimam que faz mais sentido assim, quem não é de lá
teima que não. Contudo, achamos que ambas as formas são corretas.